segunda-feira, 17 de outubro de 2016

PODE-SE TRANSIGIR EM RELIGIÃO?


 Como Fr. Boaventura lhes mostrou abundantemente, e como poderão ler no seu artigo publicado na Revista Eclesiástica Brasileira, o espiritismo nega a transcendência da Revelação, nega o milagre, nega a inspiração divina da Sagrada Escritura, nega a autoridade do magistério eclesiástico, nega a instituição divina da Igreja, nega o mistério da SSa. Trindade, e nega a divindade de Cristo. Como pode um católico pactuar com qualquer cerimônia dessa crença sem trair a doutrina que custou o sangue de nosso Salvador?
 Um espírita pode negar tudo aquilo continuando a ser credor de nossa respeito como homem. Ele tem, ao menos, a coerência de desprezar as coisas que julga não serem verdadeiras. Mas o católico-espírita é uma espécie de monstro que desobedece a Igreja em que crê e colabora nas práticas do que diz não acreditar. É incoerente na doutrina e incoerente nas atitudes práticas. Há certamente torcedores de futebol que são mais fiéis ao seu clube do que esses católicos à sua Igreja. Querem transigir? Por que não começam pelo futebol? Por que não praticam a livre interpretação dos sinais de tráfego? Porque não toleram, antes dessa mistura de religiões, a mistura das relações conjugais, trocando maridos e esposas? Vamos, vamos transigir? Sendo professor, pouco me importará que o aluno aproveite ou não; pouco me interessará, ao examinálo, que ele conheça ou não a matéria. Admitamos que ele é protestante em geometria e espírita em química.
 Sendo médico, não irei zangar-me com a enfermeira por causa de uma troca de injeções. Sendo engenheiro, transigirei com os fornecedores que roubam nas medidas e nas especificações. Por que deverei ser zeloso nos negócios dos homens se sou tolerante nas coisas de Deus? Vamos transigir em tudo se podemos transigir em religião. Agora mesmo, se eu aqui me pusesse a cantar, ou a recitar poesias, todos diriam severamente: -- O conferencista fugiu ao tema. Se eu chegasse atrasado meia hora, diriam: -- o homem não é pontual; será verídico? Se eu desandasse a falar num idioma inventado por mim, comentariam: -- Ele está zombando de nós ou ensandeceu... E teriam razão. Há regras. Há compromissos. Há convenções a que não se pode fugir sem tornar possível a convivência. Que dizer então das verdades, que dizer então da natureza das coisas que são o que são? Posso eu, usando o privilégio da livre interpretação, dizer que o cão mia e que o gato ladra?
 É claro que não. Todos concordam que não podemos transigir com o tema, com o horário, com o idioma, e com o miado dos gatos. Mas parece que se pode transigir com a Santa Doutrina que foi arrematada com o grito de dor de um Deus crucificado. Dirijo-me aos católicos-liberais, e digo-lhes que a sua transigência doutrinária prova simplesmente que, para eles, a Religião é a coisa menos importante do mundo. Ora, o catecismo nos ensina, ao contrário, que a Religião é infinitamente mais importante do que o mais alto dos negócios humanos. Nós outros que em tempo e contratempo procuramos ser fiéis à doutrina, e que levamos a sério a nossa religião, seremos necessariamente intolerantes. E seremos lógicos, porque uma religião-sem-importância é um absurdo impensável!
Na verdade, a inconsistência moral do catolicismo complacente se explica por uma espantosa subversão: o que se procura nesse tipo de religião é um deus vantajoso, um deus que nos sirva, que acorra aos nossos caprichos. Ora, mal ou bem, às vezes indignamente, nós outros professamos uma religião e procuramos um Deus como os magos de Belém: para adorá-lo e para servi-lo. Não podemos, por isso, parar nas esquinas mais próximas, para oferecer nosso incenso aos ídolos mais acessíveis, porque o nosso Deus é um Deus de absoluta intransigência que disse: "Eu sou aquele que sou"; e logo acrescentou: "Não terás outros deuses diante de minha face". Nosso Deus quer ser amado sem erro de pessoa. Quer ser louvado e adorado como Ele próprio, pela santa humanidade de seu Filho, nos ensinou. Quer ser seguido. Quer ser ouvido e obedecido: "O meu discípulo é aquele que ouve e guarda os meus preceitos". * A tradição católica sempre comparou a tolerância religiosa a um adultério.
 No Livro dos Provérbios (VI, 20-35) encontramos passagens como estas: "Meu filho guarda os preceitos de teu pai e não recuses os ensinamentos de tua mãe. Fixa-os no teu coração. Amarra-os ao teu pescoço. Eles te preservarão da mulher perversa, da língua sedutora da estrangeira...". E também: "Meu filho, sê atento à minha sabedoria e inclina o ouvido à minha inteligência, a fim de conservares a reflexão e para que teus lábios guardem a ciência. Porque os lábios da estrangeira destilam o mel e o seu paladar é suave, mas no fim ela é amarga como o absinto e aguda como a faca de dois gumes. Seus pés conduzem à morte...".

   Gustavo Corção                                                                                           
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