Histórico
A pequena Guaratinguetá ia receber a importante visita do governador da província. Na chegada de Dom Pedro de Almeida Portugal, Conde de Assumar, a cidade deveria dar demonstrações de respeito, organização e pujança. A todo custo era preciso causar boa impressão.
Assim, a Câmara de Guaratinguetá dispôs as coisas da melhor forma e mandou providenciar muitos alimentos. Como estavam em período de abstinência de carne, os pescadores da região foram convocados a obter grande quantidade de bons peixes.
Porém, como a população pobre que vivia às margens do rio já havia consumido grande parte dos peixes, como eles iriam atender o pedido?
Neste momento de dificuldade e aflição, uma ação materna ia se fazer sentir.
A pesca milagrosa
Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso eram três pescadores que viviam na região do Porto de Itaguaçu. Para atender à solicitação, saíram eles a exercer o seu ofício e, depois de reinar rio acima algumas horas, lançaram suas redes.
O livro de registros da Paróquia de Guaratinguetá assim narra: "Principiando a lançar suas redes no Porto de José Correia Leita, continuaram até o Porto de Itaguaçu, distância bastante, sem achar peixe algum".
Não é raro um pescador voltar com as mãos vazias. Mas, como a Câmara estava oferecendo bom preço pelo pescado, era decepcionante não oferecerem nada depois de trabalhar o dia todo. Ante o apuro, os três pescadores rogaram à Mãe de Deus pedindo auxílio.
Estavam já próximos do porto quando João Alves lançou novamente a rede e sentiu nela um peso diferente.
Ao puxar, deu-se conta de que havia, enroscada nela, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição que estava sem a cabeça.
João Alves envolveu-a em panos e depositou no barco. Seria algum sinal do céu?!
Porém, as redes continuavam vazias. Os pescadores continuaram seu trabalho. E, quando João Alves, mais abaixo no rio, puxou novamente a velha rede, nela viu um pequeno objeto enroscado. Algo tão pequeno se agarrar às redes parecia impossível! Pegou logo o objeto em suas mãos e deu-se conta de que era a cabeça da imagem que pouco antes recolhera no rio.
Um raio de luz iluminou a imaginação do pescador. Sem dúvida era um sinal! Lançou com mais ânimo a rede e, desta vez, não a conseguiu puxar sozinho, pois estava abarrotada de peixes. Num instante o barco ficou cheio. Tal era o peso que, para não afundarem, foi preciso remar com muito cuidado até chegarem ao Porto de Itaguaçu.
Assim como a pesca milagrosa narrada no Evangelho, a inusitada notícia se espalhou rapidamente, atraindo a atenção das pessoas para a pequena Imagem.
Todos queriam ver a "Aparecida" que se encontrava na casa de Filipe Pedroso, o mais velho dos três pescadores, a quem coube a honra da sua guarda.
Filipe limpou a imagem, colocou a cabeça com cera da terra e a depositou em uma caixa, envolta em seus melhores tecidos. De tempos em tempos, a Imagem da Aparecida era retirada da caixa para presidir as orações da comunidade. Aos poucos, porém, a lembrança da pesca milagrosa parecia ir se apagando.
Até que, certo dia, estando reunidos para o Terço, um grande ruído, semelhante a um trovão, se fez ouvir. Para a surpresa dos presentes o estrondo tinha saído da velha caixa de madeira. Sem dúvida alguma, era a Aparecida que manifestava desse modo o desejo de receber as orações de seu povo e de interceder por ele, demonstrando sua bondade maternal.
A Imagem foi imediatamente exposta numa cavidade de um tronco de graúna, que sustentava a pequena casa de taipa.
Eram os primeiros lampejos de uma devoção que iria conquistar os corações dos brasileiros de todos os rincões.
Os devotos
Nossa Senhora, depois de tocar a almas dos pescadores, foi despertando a devoção em outras camadas da sociedade. O mais impressionante é que todos os que suplicavam sua intercessão, eram sempre atendidos.
O Príncipe Dom Pedro, em 20 de agosto de 1822, viajava do Rio para São Paulo. Entrou na capela da Aparecida e pediu uma grande e importantíssima graça: a Independência do Brasil.
Pouco tempo depois, já como Imperador, consagrou o Brasil à Senhora Aparecida, com toda a sua corte.
De manto e coroa
A Princesa Isabel foi grande devota da Senhora Aparecida, dela recebendo insignes graças. E para demonstrar publicamente sua gratidão e amor, em 8 de dezembro de 1868, ofertou a Nossa Senhora um lindo manto azul cravejado com 21 brilhantes, para simbolizar os 20 Estados e a capital do País.
Como a Princesa ainda não tinha filhos, suplicou a Nossa Senhora que lhe concedesse a graça de ter um herdeiro. Anos mais tarde, em 1884, ela e o Conde D'Eu, seu marido, voltaram a Aparecida, para agradecerem, junto com seus três filhos, a graça recebida. Nessa ocasião, ofereceu à Imagem uma riquíssima coroa de ouro, cravejada de quarenta finos brilhantes brasileiros.
Com este precioso objeto, a Imagem de Nossa Senhora Aparecida foi solenemente coroada no Rio de Janeiro em 1904, por determinação do Papa São Pio X.
No dia 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI, traduzindo o sentimento do povo e atendendo ao pedido do Cardeal Dom Joaquim Arcoverde, arcebispo do Rio de Janeiro, assinou o Decreto de Proclamação de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil.
No ano seguinte, também no Rio de Janeiro, então Capital, o Presidente da República, Getúlio Vargas, acompanhado de todo o seu Ministério, autoridades diplomáticas, civis, militares e eclesiásticas e de uma multidão de mais de 1 milhão de fiéis, comemoraram o Padroado de Nossa Senhora Aparecida.
Nessa ocasião, as palavras de consagração da nação e do povo a Nossa Senhora foram proferidas por Dom Sebastião Leme, em 31 de maio de 1931, nestes termos:
Senhora Aparecida, o Brasil é vosso!
Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente.
Paz ao nosso povo! Salvação para a nossa Pátria!
Senhora Aparecida, o Brasil vos ama,
O Brasil, em Vós confia!
Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama,
Salve Rainha!
Consagração a Nossa Senhora Aparecida
Ó Maria Santíssima, que em vossa Imagem milagrosa de Aparecida espalhais inúmeros benefícios sobre o Brasil, eu, embora indigno de pertencer ao número dos vossos servos, mas desejando participar dos benefícios da vossa misericórdia, prostrado a vossos pés, consagro-vos o entendimento, para que sempre pense no amor que mereceis.
Consagro-vos a língua, para que sempre vos louve e propague a vossa devoção. Consagro-vos o coração, para que, depois de Deus, vos ame sobre todas as coisas. Recebei-nos, ó Rainha incomparável, no ditoso número dos vossos servos. Acolhei-nos debaixo da vossa proteção.
Socorrei-nos em nossas necessidades espirituais e temporais e, sobretudo, na hora da nossa morte. Abençoai-nos, ó Mãe Celestial, e com vossa poderosa intercessão fortalecei-nos em nossa fraqueza, a fim de que, servindo-vos fielmente nesta vida, possamos louvar-vos, amar-vos e render-vos graças no céu, por toda eternidade. Assim seja.
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